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Sobre esse "UM" que não conseguimos ser

O mundo não está mais cauteloso e as pessoas estão menos zelosas.

Tudo parece acelerado, denso, pesado. Não corremos mais contra o tempo, também não vamos mais de encontro à ele: corremos atrás dele e parece que o estamos perdendo de vista… estamos perdendo nosso próprio tempo de vista...

No dia a dia, tudo foi ficando jump e fast. Frio. Engordurado. Feito aos lotes. Pior: não para todos mas sim para muitos ao mesmo tempo. Inespecífico, indistinto.

Precisamos voltar a nos sentir únicos, nos perceber próprios e cuidados. Olhados. Ouvidos. Vivemos encrespados por conta do medo de desaparecermos embrulhados nisso tudo que sequer reconhecemos. Muitas vezes, ainda tomados pelo medo, impotentes e ignorantes no exercício da individualidade, ao notarmos alguém distinto de nós, agimos com vileza e mesquinhez, na intenção de calar a esse "outro". Na verdade, tentamos castigar naquele "outro", nossa própria impossibilidade de exercer esse "um" que queríamos conseguir ser mas tememos não representá-lo bem.

É urgente suavizar. Retomar o valor e a atenção de um "EU" pronto para o mundo, mas novamente generoso no ato de Ser, Aceitar, Construir, Cuidar e principalmente: EXISTIR COMO ELE PRÓPRIO É.

Eu lhe convido para que hoje, por dez minutos (apenas dez minutos), você possa reconhecer e fazer algo bom pra você. Eu lhe convido para um pequeno gesto e não uma grande atitude ou mudança (como sua mente brilhante deve ter pensado e emendado num rol de impossibilidades). "Algo bom para você" precisa apenas ter o significado de algo único e

possível. Talvez um pequeno hábito esquecido, um silêncio merecido, uma olhada pela janela, um vazio na cabeça ou uma fruta fora da hora. Experimente.

Fatima Marques



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